o blog dos vicentinos de Nova Esperança!

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Em caso de dragões, grades e abandono: amor!


O mundo é grande.
O mundo é grande e cabe nesta janela sobre o mar.
Carlos Drummond de Andrade


Existe um filme, chamado O CUBO, onde toda a realidade dos protagonistas está inserida em uma pequena caixa onde existe o necessário para se viver. Obviamente, os protagonistas se sentem pressionadas pelo espaço que também oprime a realidade que vivem.

É o que eles têm. É a realidade deles e a partir da impossibilidade de mudanças novas regras,códigos, sentimentos e atos surgem ou, são exacerbados, por uma compressão tão grande de espaço e mundo.

Para quem assiste é grande o choque de atitudes das pessoas, que, como dentro de uma jaula, se arranjam, se reconstroem em ações que deixam os expectadores entusiastas de um senso crítico severo e indignados em como seres humanos se transformam em monstros humanos comparados com o nosso mundo grande cheio de possibilidades e espaço .

É necessário ampliar o espaço. Abrir as grades, janelas e portas e se libertar de uma realidade pequena e única. O mundo é imensamente vasto em espaço, em possibilidades, em pensamentos e em escolhas.

Como sair do cubo, se por tanto se adaptar esquece-se da imensidão do mundo lá fora? Parece perigoso demais! Parece trabalho demais! Parece empenho demais e a força e disposição fica a disposição de pequenas e restritas coisas e sentimentos, que ficam estreitos e mesquinhos com amarras, grades e freios.

Sair do cubo. E ver a imensidão do mar através do quadrado de uma janela.

O cubo é uma herança terrível de alcoolismo passado naturalmente de mãe para filha. É um desajuste familiar de raízes profundas e doloridas. É violência familiar, é abandono, é discriminação, é carência afetiva, é falta de educação, é o não se importar de ninguém. O cubo é andar descalço sobre esgoto e jogar lixo dentro de casa. É não ter roupas limpas, nem comida e ter as portas amassadas por pontapés e socos...

Eis que, então, alguém se importa. E entra com a porta ainda meio fechada. Eis que alguém abre uma janela que tem como paisagem a imensidão do mar e um “uau”, é solto pela garganta abafada e as retinas são invadidas pelo azul infinito do mar e percebe-se que o mundo é muito maior que a janela do mundo que nos cerca.

O desafio para estes jovens é grande e o principal objetivo é que pelo amor, carinho, afetividade e compreensão amarras e grades sejam quebradas. Que o ciclo hereditário de opressão seja rompido e que estas crianças percebam o quanto é vasto o mundo, o quanto é cheio de possibilidades e o quanto é cheio de nobres sentimentos.

Degraus estão sendo vencidos um a um, é necessário paciência não julgar pelos olhos dos espectadores comuns confortáveis em poltronas de cinema a observar o CUBO. Não, vicentinos fervilham com o amor em movimento e devem ter um olhar holístico, compreensivo e objetivo.

Estes jovens nobres, tem paciência, conquistam pouco a pouco a confiança destas crianças simplesmente com gestos que demonstram “eu me importo com você”, ficam atentos a detalhes simples do cotidiano desta família e relatam de uma maneira admirável suas impressões a respeito da realidade estreita. Observam atentamente e tem uma maestria enorme e com caridade e sutileza, interferir em pequenas coisas, mas , que podem fazer uma diferença enorme na vida destas crianças. É assim, que objetivamente tem em suas mentes o que precisam, o que sentem falta. “ Acho que eles precisam mais de abraços”. “Acho que precisam de carinho”. “Precisam de uma cama limpa para dormir”. “Precisam de um espelho para se verem”. “Precisam de remédio para piolho”. “Precisam de ajuda na escola”. “Acho que eles precisam sair daquela casa e irem para outros lugares”.

Eles dão banho e observam se existem machucados, se estão tristes, se estão agressivos, se estão indo na escola, se estão comendo e estas crianças acordam a noite chamando por eles. Em alguns momentos o desafio parece imenso demais, real demais e dar amor, carinho parece sim uma luta de Don Quixote frente a moinhos de vento. O amor parece um “amor a uma causa perdida”...

O que podemos fazer por eles? Estes jovens se perguntam.... Deêm amor, digam e mostrem que se importam com eles. Mostrem que no cubo existe uma janela. Abram esta janela e apontem para o lado de fora onde existe um imenso oceano de possibilidades!!!!

A nós, vicentinos, expectadores e participantes desta jornada, cabe admirar, se espelhar e rezar por esta juventude, franca, forte, desbravadora a desatar nós, a lutar contra o Cubo do abandono e a destrancar portas e janelas como se fossem dragões...

Amar e se doar, nunca foi nem será uma causa perdida.

Que se abram as janelas!