Eles moram em uma rua íngreme. Muito íngreme, de terra... se chove... o carro não passa não. Já tivemos medo do carro atolar. Também não tem postes de luz não! É perigoso, dizem todos. “Lá, vixiiii, lá é perigoso”. E eles moram lá a última casa depois da maior descida, depois que a luz se finda... Depois que já nem a lembrança do poder público se lembra deles. E era lá, que tínhamos que entregar as doações de Natal.
Queríamos algo diferente e estávamos em comunhão com o direcionamento espiritual da nossa paróquia que nos pediu que evitássemos a figura do Papai Noel. Queríamos dar presentes de Natal ,poxa! Pois, apesar dos presentes ser transformadas em peças do xadrez do Natal Consumista , fazem parte da noite do Natal. Do Natal da nossa infância, aquele que escutávamos sininhos, fadas, magia... e é tão singelo querer agradar as pessoas que nos importamos, até os Reis Magos levaram presentes para agradar o Meninino Jesus. Não é?
O desejo era que os presentes fossem uma maneira de dizer que nos importávamos com eles. E mais que isto (talvez mais simples que isto...): ai, que vontade vê-los felizes, encantados e como qualquer outra criança ver em seus olhos a magia da vida que dá esperança e brota sonhos!
Conseguimos importantes doações, mas, os presentes tinham que ser entregues com o espírito do Natal....
Assim, fizemos um misto de procissão com serenata! Como assim?
Velas, canções de Natal, cartões de Natal, doces e brinquedos a descer a rua, muito íngreme, muito cheia de buracos, muito escura, muito abandonada. Na nossa frente o menino Jesus a abrir portas e nós, mais ou menos 20 vicentinos da Conferência de Jovens São Tiago e da Conferência São João Apóstolo, acima, um céu estrelado lindo e em nossos corações o desejo por levar Jesus aquelas casas.
Foi bom, em? ????!!!!! Desafinamos nas canções, mas, afiamos os sentimentos.
E ainda nos tornamos “trovadores do Natal” a ensaiar uma “pseudo-serenata” de Natal. Ah, foi bonito.... as crianças se aproximando.... Ah, as luzes na escuridão....Ah, foi bonito.... Os olhos brilhantes... Ah, foi especial....
A Beatriz, a menininha de 6 anos, foi quem acertou de quem era o aniversário no Natal... foi ela também que apareceu com a roupa nova para nossa aprovação. Mateus, foi correndo lavar os pés para provar o tal tênis “But” que sofremos para encontrar! A caçulinha não parava de apertar os botões do brinquedo novo... e todos desfilaram para nós as roupas e os calçados novos, porque em vez de pedir brinquedos, TODOS, pediram roupas , calçados e por estarmos por este ano todo com contato direto com eles tudo foi comprado ESPECIALMENTE para cada um deles.... e eles perceberam o “especialmente” com olhos que brilhavam, brilhavam, a quase lágrimas de felicidade a nos abraçar, beijar... Aliás, foi beijos e abraços e apertões que não se acabavam....
Mateus, nos ouvidos de um disse que não tinha meias para usar o tênis novo...É assim, as necessidades não terminam com presentes de Natal , somente faz com que outras fiquem mais aparentes... também os presentes não livram nossas consciências de que estamos os amando por dar presentes e os fazendo felizes por minutos... Não!
Os jovens da Conferência São Tiago SONDARAM estas crianças por quase todo o ano de 2011. SONDARAM. Tentaram os entender, os conquistar... e tentam, tentam e tentam mostrar que existe um mundo muito maior que aquele que a janela do quarto da sua casa, a última casa da rua íngreme, com buracos, escura e perigosa, mostra .... Um mundo cheio de possibilidades....
Subimos a rua no escuro, abaixo do céu estrelado. Não havia a luz das velas, somente nos corações e pensamentos a luz dos olhos brilhantes das crianças, que assim como eu, como você como qualquer pessoa na sua infância, provavelmente tiveram dificuldade de dormir com a ansiedade dos presentes de Natal.
2012, vem aí, estão sentindo no vento?. .... E desejamos que com o Natal, esta família assim como tantas outras que nós vicentinos acompanhamos e SONDAMOS, o amor de JESUS os impulsionem a lutar por um futuro digno e que nós transbordantes de amor renovado estejamos ali, apoiando e orientando estas mudanças.
De tudo, de tudo sempre fica um pouco ( já dizia Carlos Drummond de Andrade) fica a frase espantada de um das crianças ao ver que a irmã de 2 anos tinha ganhado calcinhas com o vestido novo. Sim, calcinhas!
“ Ela ganhou calcinhas novas! Ela nunca teve calcinhas novas!”
Para todos leitores e vicentinos, que 2012 seja pouco, para caber o tudo
e se o tudo é pouco, pense que para muitos o pouco é tudo!
